PICASSO
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Arte é...vidência |
A revolução pictórica de Pablo Picasso
Por Cimara Valim de Melo
Esperam de mim que lhes diga: O que é arte? Se o soubesse, não o diria a ninguém. Pablo Picasso
Mistério, desencontro, fragmentação, dúvida: esses são os principais matizes que dão forma à revolução artística desencadeada pelo pintor, desenhista, ceramista e escultor espanhol Pablo Picasso. Sua obra de vanguarda é considerada uma das grandes – se não a maior – aparições do século XX, influenciando gerações até a atualidade e conquistando, com rapidez, um privilegiado espaço em meio à Arte Ocidental. Segundo Ingo Walther, no livro ilustrado Picasso, para alguém ser considerado gênio, não basta apenas uma obra revolucionária, sempre inovadora, rompendo com todas as tradições. É necessária também uma irradiação carismática, que encante e fascine os críticos e os admiradores – e esta possuía Picasso em alto grau. Picasso conseguiu, através de telas monumentais, tornar clássica a arte transgressiva e desafiadora que produzia, irradiando cores, formas e sensações ao longo de oito décadas de produção constante. Toda a gente quer compreender a arte. Por que não tentam compreender as canções de um pássaro? Pablo Picasso Nascido em 1881, em Málaga, Espanha, recebeu da família o incentivo e as primeiras lições referentes à pintura, pois o pai, Don José, era pintor e professor de desenho. O menino-artista, desde cedo, auxiliava o pai nas tarefas que envolviam tempo e tintas. Com o ingresso na Escola de Artes de La Coruña, passou a estudar sistematicamente, recebendo aulas do próprio pai. E, como gênio, superou o mestre, fato que levou o pai a entregar-lhe seu material de pintura quando Pablo tinha apenas treze anos. Em 1895, a família mudou-se para Barcelona, época em que ele entrou para a Escola de Arte La Lonja. Seus trabalhos para admissão surpreenderam os dirigentes, conforme registrou Gertrude Stein: não eram os desenhos de uma criança, mas os de alguém que nasceu pintor. Em 1897, inscreveu-se na conceituada Academia San Fernando, iniciando o processo de busca da identidade artística e embebendo-se da arte modernista, que pôde visualizar com mais profundidade quando, pouco tempo depois, conheceu a cultura parisiense. A partir de então, não houve modelos nem padrões que pudessem conter a criatividade do jovem Picasso. O artista é um receptáculo de sentimentos que vêm de toda a parte: do céu, da terra, de um pedaço de papel, de uma figura que passa, ou de uma teia de aranha. Pablo Picasso Se você fosse expressar em cores as principais fases de sua vida, que matizes e formas elas teriam? Certamente, em alguns momentos, assumiriam tons mais frios, mais escuros, e, em outros, nuances mais fortes, intensas. Picasso teve fases que não apenas representaram subjetivamente a realidade pessoal e social, mas carregaram em si tons, formas, cores comuns. Foi no início do século XX que explodiu sua produção, com as fases azul e rosa, que trouxeram originalidade a seu processo criativo. A primeira marca, a fase azul, foi pincelada pelos temas da dor frente à frieza da morte, da solidão e do desamparo. Desencadeada pela morte do amigo Carlos Casagemas, foi representada por obras como "Os pobres na praia" e "A vida", ambas de 1903. Já na fase rosa, que sucedeu a azul, houve o predomínio da sensualidade, de cores mais intensas, da expressão vibrante do ser humano. Além do predomínio de temas cotidianos, menos introspectivos, houve a mudança formal, pela incidência de cores mais claras e delicadas. Mas foi após as fases azul e rosa que Pablo Picasso revolucionou a arte, destruindo bravamente modelos tradicionais, deformando a realidade através da fragmentação e do uso de imagens geométricas e formando, assim, a pintura cubista. Cubismo este que expressa a mais profunda ruptura na obra do artista, por originar uma nova forma de percepção da multiplicidade da vida, livre de regras academicistas. Essa tendência acabou por acompanhá-lo durante toda sua vida, tornando-se a marca de seu legado. Destacam-se, dessa fase, obras como "Les demoiselles d’Avignon", de 1907, "Taça de frutas e pão sobre a mesa", de 1909, e "Retrato de Ambroise Vollard", de 1910, além de obras posteriores que conservaram os traços geométricos, como "Mulher com flor", de 1932, "Menina com barco", de 1938, e "Natureza morta com crânio de boi", de 1942, entre inúmeras outras preciosidades. Para mim não existe passado nem futuro na arte. Se uma obra de arte não vive sempre no presente, está fora de questão. Pablo Picasso Todavia, após o ápice da produção cubista, Picasso também buscou outras formas de expressão. Após uma viagem à Itália, em 1917, houve significativas mudanças nas telas, as quais passaram a apresentar uma realidade mais concreta e próxima das imagens captadas pela visão humana. Desse momento, destacam-se "Camponeses dormindo", de 1919, e "Mulheres correndo na praia", de 1922. Mas a força arrebatadora das formas geométricas retornou à vida de Picasso, coincidindo com o desmantelar de seu casamento com Olga e o relacionamento com Marie-Thérèse. Formas ambíguas, transpassadas por realidades prismáticas, contornaram as telas – contornos intensificados pela voracidade da Guerra Civil Espanhola e da II Guerra Mundial. Nas imagens, elementos históricos foram entrelaçados à subjetividade do criador, gerando obras-primas como "Guernica", de 1937, e "O ossuário", de 1944, cujos motivos as tornam complementares entre si, já que expressam o clima grotesco e desolador da guerra, repleta de seres petrificados diante do terror e da violência. O que pensa que é um artista? (...) Ele é simultaneamente um ente político que vive constantemente com a consciência dos acontecimentos mundiais destruidores, ardentes ou alegres e que se forma completamente segundo a imagem destes. Pablo Picasso
Picasso, porém, não se restringiu à pintura, projetando sua inventividade para outras artes. Como desenhista, produziu um conjunto gráfico de aproximadamente dois mil trabalhos, através de diferentes técnicas, como litografia, água-forte e carvão. Seus desenhos possuem em comum a falta de uma formulação definitiva, como se estivessem em permanente processo de construção. Já como escultor, também prezou pela liberdade, utilizando barro, gesso, metais, madeira, sem contar com o uso de diversos materiais já prontos, presentes na chamada Escultura de Construção. Com eles, constituiu um sistema de trabalho marcado pela espontaneidade e pela emoção, sem nenhum tipo de rigidez formal. Pablo também se expressou como artista de cartazes destinados a convites de suas próprias exposições e a eventos em prol da paz, nos quais se observa a mistura de elementos gráficos e pictóricos. Por seus múltiplos talentos e pela vontade incessante de novos modos de expressão, o artista chegou a atuar como ceramista, reconstruindo, por meio dessa arte milenar, objetos de uso diário, além de pintar azulejos. Essas possibilidades diversas trazem à tona a inquietude do artista, a busca desenfreada por si mesmo em um mundo arbitrário, a luta silenciosa através das cores. É por sua assombrosa capacidade de representar o humano que Ambroise Vollard afirmou: cada nova obra de Picasso horroriza o público, até o espanto de se transformar em admiração. Não, uma pintura não foi inventada para decorar casas. Ela é uma arma de ataque e defesa contra o inimigo. Pablo Picasso
Les Demoiselles d´Avigon, 1907 Picasso, devido à maestria, à popularidade e à solidão progressiva, tornou-se um verdadeiro mito da arte do século XX. A mimese da realidade e, ao mesmo tempo, a ruptura e a transgressão caracterizam o conjunto de sua obra. Picasso conseguiu, através de telas monumentais, tornar clássica a arte transgressiva do Cubismo. Nas duas últimas décadas de vida, seus trabalhos tiveram uma liberdade incrível, ora transfigurando obras de pintores clássicos, ora buscando imagens poéticas, ora refletindo sobre a própria arte – resultado do amadurecimento e da síntese criativa. Sua morte – ocorrida dia oito de abril de 1973 – repercutiu mundialmente, mas jamais será vista como o fim de Pablo Picasso, pois ele continuará vivo em cada um de seus traços, em cada enigma oculto nos rostos, nos espaços, na geometria, enfim, nas sensações que emanam das formas trazidas ao mundo por suas mãos de Mestre. Para Walther, que o considera o gênio do século XX, não é a atualidade histórica, nem o narrar do acontecimento concreto que garante a autenticidade da tela, mas sim a eternidade intemporal do sofrimento. Assim, percebemos que a arte de Pablo Picasso problematizou tudo Na nossa miserável época importa, sobretudo, despertar o entusiasmo. (...) Entusiasmo é o que mais falta nos faz, a nós e à juventude. Pablo Picasso |